Eu assistia, apoiado na parede ao
lado da porta, a suave e perfeita dança que seu vestido fazia, seguindo suas
pernas e o quadril, enquanto cantava aquela música. Era como se fosse câmera
lenta, o jeito como sorria enquanto cantava cada trecho, a cor do batom, até as
luzes complementavam o cenário.
Delicadamente, seu cabelo caía
sobre seu rosto e, sem precisar soltar o microfone, você assoprava a franja,
que a incomodavam e, assim, novamente eu via teu sorriso. Era como uma
brincadeira, você era uma menina, espírito livre e inocência aflorada, uma
brincadeira na qual eu não queria ver fim.
Nossos sentidos estavam aflorados
após a segunda dose de gin, mas insistimos que tudo estava muito tranquilo
ainda. Meu rosto perto do teu, sentimento e movimento proibidos, dizia o
contrário do que tentamos esconder por tanto tempo – ou nem tanto assim, era a
primeira vez que nos víamos de fato. Te esquecer seria quase que impossível.
Atravessei oceanos superficiais,
profundezas tão rasas quanto a minha paciência com o sentimento de amar até
que, então, conheci você. Eu vinha baseando minha vida em pequenas ilusões,
afirmações das quais tenho vergonha de pensar novamente; desesperanças fixas
como certas contas das quais fujo de pagar. O cotidiano era meu inimigo agora
pois, certamente, não te veria novamente tão cedo – ou, se quer, a veria de
novo.
Caminhando de volta para casa,
entre um tropeço e outro, eu tentava focar em você, restabelecer meu equilíbrio
de alguma forma. Engado meu, achar que, na sua loucura somada à minha, haveria
qualquer equilíbrio. O beijo que demos na despedida, o seu batom em mim, minha
mão no seu rosto, a música de fundo, as luzes deixando o seu olhar vazio de
esperança, como quem sabe que não haverá volta.
Te olhei profundo, fui até onde a
alma conseguia alcançar, e entendi que aquele era nosso primeiro e último
momento. Eternizamos, ali, um sentimento que corroeria e doeria para sempre,
carregado de eternas boas lembranças e risos.
Eu amo seu sorriso.
Agora, aqui de olhos fechados e
tanto tempo depois, ainda consigo sentir até o teu cheiro.
Antes do fim, quero
te dizer que valeu a pena cada instante daquele dia seguido dos tempos de
solidão.
Eu me rendo, escolho partir com o que ainda me resta de você.
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